quarta-feira, 19 de março de 2008

Turismo: "a indústria sem chaminés"...

...esse bordão, tão exaustivamente entoado, pelas tais "autoridades" e papagaios de corsários do trade, mesmo em dias recentes. Um clichê, que tal qual quem deste se utiliza é "sem pés, nem cabeça".

Viagem ao centro da "lixeira" do oceano Pacífico

Charles Moore conserva os seus achados mais preciosos num armário de ferro no fundo do seu jardim, perto do oceano Pacífico, em Long Beach, Califórnia. Há dez anos que, a bordo de um catamarã batizado Alguita, este homem vem caçando obstinadamente uma presa singular, o plástico encalhado no fundo do oceano. E ele encontra objetos de plástico de toda natureza, dos mais diversos tamanhos e origens. "Os meus prediletos são os ganchos de guarda-chuva", diz ele, em tom de brincadeira.

Entre esses objetos, há também um grande pacote de escovas de dentes, canetas, vasilhas deformadas pelas mordidas dos tubarões. Uma bola em forma de coração. Capacetes de canteiros de obras. "Este aqui é russo, a inscrição é em cirílico", observa Charles Moore. "Este outro tem cara de ser asiático". Mas os objetos identificáveis não constituem o aspecto mais importante desta "pesca", pois nenhum deles permanece inteiro por muito tempo, ao serem sacudidos pelas correntes. A maior parte da colheita é menos espetacular, porém mais preocupante.

São partículas menores do que um grão de areia, que resultam da deterioração dos objetos. Os granulados que servem de matéria-prima para a indústria do plástico também estão presentes em quantidades enormes. Naquele momento, Charles Moore acabara de descarregar do Alguita cerca de cinqüenta amostragens desta "sopa de plástico", que ele havia coletado em alto-mar em fevereiro. "O oceano está ficando repleto de resíduos", suspira, agitando um dos bocais de vidro.

O capitão tem cerca de 60 anos. Ele tem o olhar exangue e a pele morena e burilada dos marinheiros, além de uma autoridade natural na voz. Iniciado à vida e às manobras a bordo desde a infância pelo seu pai, por muito tempo ele ganhou a sua vida dirigindo uma empresa de restauração de móveis, antes de passar a se dedicar àquilo que mais o interessa no mundo, o mar. "Eu cresci com o espetáculo do oceano diante de mim, e acompanhei o seu processo de deterioração", conta.

O seu interesse no plástico resulta de um evento casual. Em 1997, ao retornar de uma competição de veleiros que o conduziu de Los Angeles até Honolulu, o navegador tomou a decisão de passar por uma rota habitualmente evitada pelos marinheiros, pois ela atravessava uma zona de altas pressões, sem vento, onde as correntes se enroscam no sentido das agulhas de um relógio: o Giro do Pacífico Norte. "Dia após dia, eu não consegui ver nenhum golfinho, nenhuma baleia, nenhum peixe sequer; tudo o que eu via ali era plástico", recorda-se.

Charles Moore apaixonou-se por este lugar esquecido. Ele criou uma fundação, fez com que ela fosse financiada por doadores privados e, com a ajuda de cientistas especialistas na poluição da água, desenvolveu um método de quantificação dos detritos, antes de retornar para aquela área. Os primeiros resultados das pesquisas foram divulgados pela publicação especializada "The Marine Pollution Bulletin" em 2001. A equipe recenseou 334.271 fragmentos de plástico por km2 em média (e até mesmo a quantidade máxima de 969.777 fragmentos por km2 em certos lugares), para um peso médio de 5 kg/km2. A massa de plástico é seis vezes mais elevada do que a massa de plâncton colhida no local. O Giro atua como uma armadilha para as partículas.

O lugar onde as amostragens foram colhidas, que é tão grande quanto o Texas, é batizado de Eastern Garbage Patch, a "Porção-lixo do Leste" do Pacífico. Qual é a superfície total desta vasta "lata de lixo"? "Isso, nós ainda não descobrimos", responde Charles Moore. "A água está sempre em movimento, e, com isso, a poluição fica muito difícil de medir. Eu percorri 150 mil quilômetros a bordo do Alguita pelo Pacífico Norte, e encontrei plástico por todo lugar".

A mais recente viagem do Alguita permitiu constatar um agravamento dos níveis de poluição. "Foi verdadeiramente chocante constatar que em cada colheita que nós trazíamos do fundo do mar para a superfície, a rede estava sistematicamente lotada de partículas e objetos de plástico", observa Jeffery Ernst, 22 anos, que acaba de obter o seu diploma de biologia marinha e que se alistou como voluntário para integrar a tripulação do Alguita. Os fragmentos, que são colhidos por meio de um grande jereré sofisticado, deverão ser selecionados e classificados em 128 categorias diferentes, em função do seu tipo (fio, filme, espuma, fragmento, granulados), do seu tamanho e da sua cor.

O capitão Moore não é um cientista de formação, mas o seu trabalho vem sendo reconhecido pelos especialistas neste tipo de poluição. Isso porque ele percorre locais aonde ninguém nunca vai, no meio do Pacífico. "Ele demonstrou que esta poluição realmente existe; é um pioneiro neste campo", comenta Anthony Andrady, um especialista nos polímeros que atua no centro de pesquisas Research Triangle Institute.

Segundo Andrady, o impacto desta poluição é atualmente "subestimado". Cerca de 245 milhões de toneladas de plástico, no total, foram produzidas em todo o mundo em 2006. Uma parte desta produção, difícil de quantificar, é jogada no oceano. A matéria plástica, que é muito leve, é transportada não só pelo vento, como também e principalmente pelos rios e pelos sistemas de evacuação das águas urbanas. Isso sem esquecer dos detritos abandonados nas praias. Cerca de 80% do entulho de plástico encontrado no mar provêm da terra. Apenas 20% são despejados por navios.

O plástico possui muitas qualidades. Ele é relativamente barato, muito prático e resistente. Resistente demais, justamente, quando ele escapa dos circuitos de coleta e de destruição dos detritos. No meio da natureza, ele parece ser indestrutível. "Ninguém sabe ao certo quanto tempo ele leva para desaparecer por completo", explica Anthony Andrady. "Ele pode fragmentar-se a ponto de se transformar em pó, mas ele permanece ali, no meio ambiente. Nenhum microorganismo é capaz de deteriorá-lo por completo. Todo e qualquer objeto de plástico que escapou para se misturar no meio ambiente, desde que esta matéria é fabricada, nele continua presente".

É impossível limpar o oceano. "Isso equivaleria a tentar filtrar toda a areia do deserto do Saara por meio de uma peneira", diz Charles Moore. A única solução, segundo ele, é passar a desenvolver o plástico de tipo reciclável, biodegradável, cuja produção atualmente permanece muito incipiente, e mudar os nossos hábitos. "Nós deveríamos reservar o plástico apenas para os objetos que são verdadeiramente destinados a durarem".

Gaëlle Dupont
Enviada especial a Long Beach, Califórnia
Tradução: Jean-Yves de Neufville
Copiado deste link.

segunda-feira, 17 de março de 2008

Shipping up to Boston ao São Patrício


Vai copiado abaixo, um email de Márcio Kennedy Yatsuda, diretor da Kaizen (não aquela do Second Life e todo o turismo virtual vislumbrável naquela vida). Na mensagem, além do explicado no próprio texto e nos links constantes, ficam sugeridas estas questões: que tal se se aprimorasse um segmento que atendesse um turismo esportivo específico, como o de corridas?; o que empreendimentos turísticos poderiam realizar na inclusão de pessoas com alguma desabilitação e seus familiares em termos que fossem além das usuais prestações de serviços para tal público?; que tal alguém investir em turismo receptivo customizado (focado em alguns artistas diferenciados) trazendo para o Brasil atrações tais, no ensejo de comemorar certas datas específicas e ocasiões especiais, de modo algo sui generis?

esta última questão foi só pra relacionar o post ao vídeo acima, do Dropkick Murphys . Cheers Patrick!

Oi!

Algumas pessoas já sabem, que faz algum tempo (cerca de 2 anos) que venho correndo regularmente. Alguns acham loucura, outros uma chatice (;-D) e uns poucos compartilham comigo da paixão por esse esporte. Nesse período já fiz umas 15 provas de 10Km, 1 de revezamento e 2 Meia Maratonas (21Km).

Em algum momento comecei a sonhar em um dia correr uma Maratona (42Km). E ao se falar de Maratona, uma prova é tida como a Meca dessa prova no mundo: a Maratona de Boston (http://www.bostonmarathon.org). Apesar da de Nova York atrair muito mais a atenção da mídia e do público em geral, a de Boston é a mais tradicional do mundo – a primeira edição aconteceu no mesmo ano dos primeiros Jogos Olímpicos da era moderna (este ano será a 112ª edição...). Quando comecei a pensar em correr essa prova, veio a notícia "ô Mané, pra você correr em Boston, tem que pré-qualificar". Isso significa correr outra Maratona reconhecida pela Federação Internacional de Atletismo, dentro de um limite de tempo - pra minha faixa etária, o limite de tempo é praticamente inatingível pra mim: 3hs 15min...( http://www.bostonmarathon.org/BostonMarathon/Qualifying.asp). Na melhor das hipóteses me via completando uma Maratona em +- 3hs 45min.

Virei a página e comecei a pensar em outra Maratona, mais adequada aos mortais.

Ano passado, conversando com alguns amigos da EMC (empresa americana, parceira nossa www.emc.com), eles falaram que a EMC ajudava uma entidade assistencial na região de Boston, e que faziam uma campanha para levantar fundos para essa entidade durante a Maratona, e com isso ganhavam o direito de algumas inscrições para os funcionários que se engajassem nessa campanha. Eles então comentaram comigo que iam tentar, apenas tentar, me incluir nessa campanha – teria que ser uma exceção uma vez que isso é voltado para funcionários apenas, e a procura é muito maior que o número de inscrições.

Pois bem, mês passado fiquei sabendo que me incluíram na campanha e que vou correr (ou pelo menos tentar correr ;-D) a Maratona de Boston 2008.

Além dos treinos, comecei a ver e a pesquisar a entidade que irei ajudar a levantar fundos. A instituição se chama "The Michael Carter Lisnow Respite Center", uma instituição de apoio a famílias de crianças excepcionais (http://www.hopkintonrespite.com). O que começou como um mero novo desafio esportivo pra mim, se tornou uma real oportunidade de ajudar pessoas especiais e fazer o bem. Algumas informações sobre o "Respite Center":

- Quem foi Michael? Michael foi uma criança que nasceu em 1986, 16 semanas prematuro, com apenas 10% de chances de sobreviver. Ele nunca poderia enxergar, ouvir, falar, caminhar, e sempre precisaria de apoio intenso da sua família (http://www.hopkintonrespite.com/html/about.htm) . Algumas famílias se desestruturam completamente diante de uma realidade dessas. Outras se tornam mais fortes - foi o que aconteceu com a família do Michael. Das dificuldades enfrentadas por eles, surgiu a idéia de criar uma instituição para apoiar as famílias com crianças especiais como o Michael.

- Em 1996, na mesma semana da 100ª edição da Maratona de Boston, um ano antes da instituição abrir suas portas, Michael faleceu - então com 10 anos. Foi um duro golpe para a família que estava engajada na construção do Respite Center, que mesmo assim seguiu em frente com o projeto. Da trágica coincidência do falecimento com a Maratona, surgiu uma aliança que até hoje tem sido fundamental para levantar fundos que mantém a entidade.

A Maratona será dia 21/04, e eu integrarei a equipe da EMC que está engajada na campanha de levantar fundos para o Respite Center.

Caso você se interesse em ajudar, sugiro que acesse o site da instituição, e veja o trabalho que eles realizam. Caso você se disponha a contribuir, basta ter um cartão de crédito internacional:

- Acesse http://www.hopkintonrespite.com/html/donations.htm

- Clique na bandeira do cartão de crédito. Você será direcionado para o site do Paypal (não é necessário ter uma conta Paypal para doar).

- No campo "Purpose" informe "Marcio Yatsuda", preencha o valor em "Donation Amount" e clique em "Update Total".

- Preencha os demais campos e clique em "Review donation and continue".

E os treinos? Bom os treinos vão indo, não quero fazer feio no dia (;-D). Estou correndo distâncias que nunca tinha corrido – este fim de semana vou correr 30 km. Coisa de louco mesmo, né?....

É isso aí. Se puderem divulgar essa iniciativa para outras pessoas, agradeço. Um grande abraço a todos. Marcio Yatsuda

sexta-feira, 14 de março de 2008

Nesta semana de aniversários...

... do atentado de Madri em seu quarto aninho: que as pessoas não se esqueçam de que apesar da terrível tragédia, aquele governo à ocasião, alinhado ao de Bush, foi derrotado pelo povo que não aceita o imperialismo estadunidense, graças às revelações alastradas via internet, de informações que teimavam permanecer omitidas pelas fontes oficiais, que insistiam em mentiras que não puderam mais se sustentar diante da gravidade dos fatos.
Agora, infelizmente, é de lamentar que o governo que se sucedeu, como um dos efeitos de toda a cultura de medo instalada pelo mundo e intensificada de diferentes maneiras por toda a comunidade européia, é este que agora provoca seus atentados aos direitos dos cidadãos inocentes e comuns, como os realizados a meros viajantes em sua legítima expressão de ir e vir.
O texto abaixo de Contardo Calligaris*, partilhado pela colega Jimena Risuenho Viana, retrata tão fielmente este momento de amedrontamento geral que tem deixado a todos atônitos, seja pela percepção ou por algum condicionamento ao atual estado das coisas.

É proibido viajar
A modernidade, que começou com a livre circulação, acaba proibindo a viagem
NO EPISÓDIO dos jovens pesquisadores brasileiros barrados em Madri, as autoridades espanholas agiram como se o cônsul-geral do Brasil contasse lorotas para facilitar o trânsito de imigrantes ilegais. O desrespeito justifica a "retaliação" brasileira.
No mais, a cada dia, as fronteiras do mundo (não só do primeiro) barram alguém que tenta viajar, sobretudo se for jovem, solteiro e sem as aparências de uma "vida feita".
Ao atravessar uma fronteira, o passaporte prova que estamos em paz com a Justiça de nosso país. As outras nações devem decidir se somos hóspedes desejáveis. Nas últimas décadas, as "condições" para ser desejável se multiplicaram. Hoje, no caso da Espanha: 1) 70 por dia de permanência planejada; 2) passagem de volta marcada; 3) reserva de hotel, já pago; 4) para quem se hospedar com parentes, formulário preenchido pelos mesmos; 5) quem se desloca para trabalhar deve dispor de um contrato assinado. Normas muito parecidas valem na maioria dos países.
O escândalo é que essas condições podem nos parecer "aceitáveis". Afinal, qualquer Estado quer proteger o emprego de seus cidadãos impedindo a chegada de imigrantes não-autorizados, não é? Pois é, Michel Foucault é mesmo o pensador para os nossos tempos: o sistema social e produtivo dominante ordena nossas vidas furtivamente, convencendo- nos de que não há opressão, mas apenas necessidades "racionais". Se achamos essas regras "aceitáveis", é porque já adotamos a idéia de que, no nosso mundo, só é legítimo ter moradia fixa e profissão estável.
As pessoas com moradia fixa podem, quando elas dispõem dos meios necessários, adquirir uma passagem de ida e volta e sair de seu lar seguindo um programa pré-estabelecido -ou seja, podem ser, ocasionalmente, turistas.
Escárnio: prefere-se que os turistas sejam otários, pagando de antemão. Há uma pousada melhor da que estava prevista? Você quer encurtar a viagem? Pena, você já pagou. Mas isso é o de menos. Importa o seguinte. A modernidade, que começou com a circulação (livre ou forçada) de todos os agentes econômicos, acaba parindo, nem mais nem menos, a proibição da viagem. Como assim? Pois é, viajar não tem nada a ver com férias num resort ou com ser transportado de cidade em cidade para que os cicerones nos mostrem as coisas "memoráveis".
Para começar, viajar é usar uma passagem só de ida.
- Quanto tempo você vai ficar?
- Não faço a menor idéia. Um dia? Três meses? Um ano?
- E você vai para onde?
- Não sei. Talvez eu curta uma pequena enseada, alugue um quarto numa casa de pescadores e fique comendo caranguejos com os pés na areia. Talvez, já no avião ou pelas ruas de Barcelona, eu me apaixone por uma holandesa, um russo ou uma argelina e os siga até o país deles, por uma semana ou um mês.
Se a paixão durar, ficarei por lá.
- E o dinheiro?
- Não sei, meu amigo. Toco violão, posso ganhar um trocado numa esquina ou no metrô. Também posso lavar pratos, ajudar na colheita, cortar lenha, lavar carros e vender pulôveres. E, se a coisa apertar, tenho endereços de parentes e conhecidos que nem sabem que estou viajando, mas não me recusarão uma sopa e um banho quente. Além disso, em Paris, quando fecha o mercado da rua Saint Antoine, sobram na calçada as frutas e as saladas que não foram vendidas; em São Paulo, Londres e Nova York, conheço dezenas de igrejas que oferecem um pão com manteiga; em Varanasi, ao meio dia, distribuem riso com curry e carne aos peregrinos.
Cem anos depois da invenção do passaporte com fotografia, chegamos nisto: uma ordem que só permite se movimentar para consumir férias ou para se relocar segundo os imperativos da produção.
As regras que barram o viajante expressam nossa própria miséria coletiva: perdemos de vez o sentimento de que a vida é uma aventura. Preferimos a vida feita à vida para fazer.
Para quem quiser ler sobre a história da documentação de viagem, uma sugestão: "Invention of the Passport: Surveillance, Citizenship and the State" (invenção do passaporte: vigilância, cidadania e o Estado), de Torpey, Chanuk e Arup (Cambridge University Press).
Para quem quiser viajar, outra sugestão: a mentira, num mundo opressivo, é uma forma aceitável de resistência.

* o autor escreveu este originalmente publicado em 13 de março na Ilustrada.


Este post vai pra gente como o Martinho Motocotó Ribeiro Neto, quem ainda acredito, fará suas viagens sem medo, com as caronas dos caminhoneiros, pois turismo de aventura é isto.
E também pra aniversariante Érica Midori Natsui, que na realidade, viajou pra eternidade, ao menos, enquanto a memória durar. Uma das que ainda tiveram a sorte de viajar bastante e sem medos. Parabéns, que venham muitos aniversários como estes, para se lembrar disto.

terça-feira, 11 de março de 2008

Programa Favelístico

Nestes tempos de tanta gente achando que conhece favela via filmes como Cidade de Deus ou Tropa de Elite, tem outros tantos ainda, que acham que conhecem tais comunidades sendo turistas.
Nossa colega Angela Teberga partilhou conosco essa reportagem que deu no New York Times e vai reproduzida abaixo. E, no embalo, vão outros links sobre o tema, entre os quais este de Bianca Freire-Medeiros, disponível na biblioteca científica Scielo e os das agências operadoras mencionadas: Favela Tour e Reality Tours and Travel
Taí, quem sabe alguém ainda consiga um dia, imprimir nestes locais, o que seja, de fato, o ecoturismo?

Passeio na favela: turismo ou vouyeurismo?

Eric Weiner*

O trabalho de Michael Cronin como funcionário de admissão de alunos na universidade faz com que ele tenha de viajar duas ou três vezes por ano à Índia. Ele já havia visitado os pontos turísticos mais comuns - templos, monumentos, mercados - quando um dia cruzou com um panfleto que divulgava "turismo na favela".

"Aquilo ressoou em mim imediatamente", diz Cronin, que estava hospedado no elegante Taj Hotel em Bombaim, onde, conforme ele próprio notou, uma garrafa de champanhe custa o equivalente a dois anos de salário de muitos indianos. "Mas eu não sabia o que esperar".

Pouco tempo depois, Cronin, 41, já estava desviando de esgotos a céu aberto e se agachando para evitar fios elétricos expostos enquanto passeava pela favela de Dharavi, onde vive mais de um milhão de pessoas. Ele participou de um jogo de críquete e visitou a pequena indústria local, com fábricas de bordado e curtume, que silenciosamente prospera na favela. "Nada é considerado lixo aqui", diz. "Tudo é reutilizado".

Cronin levou um susto quando um homem, "com certeza bêbado", roubou algum dinheiro de seu bolso, mas o passeio de duas horas e meia mudou sua imagem da Índia. "Todo mundo na favela quer trabalhar, e todos querem melhorar a si mesmos", disse.

O turismo em favelas, ou "pobrismo", como é chamado por alguns, está em alta. Das favelas do Rio de Janeiro às "townships" de Johannesburgo, passando pelos lixões do México, os turistas estão trocando, pelo menos por algum tempo, as praias e museus pelas populosas, sujas - e, sob vários aspectos, surpreendentes - favelas. Quando o britânico Chris Way fundou a Reality Tours and Travel em Mumbai há dois anos, mal conseguia reunir clientes para fazer um passeio por dia. Hoje, ele coordena dois ou três passeios diários e recentemente expandiu seu negócio para a zona rural.

Turismo em favelas não é para qualquer um. Os críticos dizem que observar os mais pobres entre os pobres não é turismo. É voyeurismo. Segundo eles, os passeios são uma exploração e não têm vez no itinerário dos viajantes mais éticos.

"Você gostaria que pessoas parassem em frente à porta da sua casa todos os dias, ou duas vezes por dia, tirassem fotos de você e fizessem comentários sobre o seu estilo de vida?", pergunta David Fennell, professor de turismo e meio ambiente na Universidade de Brock, em Ontário. O turismo em favela, diz ele, é apenas mais um nicho que o turismo encontrou para explorar. O objetivo real, ele acredita, é fazer com que os ocidentais do primeiro mundo se sintam melhor em relação à sua situação de vida. "Isso reforça, em minha mente, o quanto eu tenho sorte - ou o quanto eles não têm", diz.

Não é bem assim, dizem os defensores do turismo nas favelas. Ignorar a pobreza não vai fazer com que ela desapareça. "O turismo é uma das poucas maneiras pelas quais eu ou você seremos capazes de entender o que significa a pobreza", diz Harold Goodwin, diretor do Centro Internacional de Responsabilidade no Turismo em Leeds, na Inglaterra. "Simplesmente fechar os olhos e fingir que a pobreza não existe me parece negar nossa humanidade".

A questão mais importante, diz Goodwin e outros especialistas, não é se os passeios nas favelas deveriam existir, mas sim como eles devem ser conduzidos. Eles limitam as excursões a grupos pequenos, que interagem respeitosamente com os moradores? Ou fazem o passeio de ônibus, com os turistas tirando fotos pelas janelas como num safári?

Muitos organizadores de passeios são sensíveis às acusações de exploração. Alguns encorajam - e pelo menos um deles exige - que os participantes tenham um papel ativo em ajudar os moradores. Um grupo ligado à igreja em Mazatlan, no México, organiza passeios ao lixão local, onde as pessoas sobrevivem com o que encontram no meio do lixo, parte dele vindo de um resort de luxo nas proximidades. O grupo não cobra nada, mas pede aos participantes que ajudem a fazer sanduíches ou a encher garrafas com água filtrada. Os passeios se mostraram tão populares que, durante a alta temporada, o grupo tem de recusar participantes. "Vemos nosso trabalho como uma ponte para conectar os turistas ao mundo real", diz Fred Collom, o pastor que coordena os passeios.

Segundo consta, o turismo nas favelas começou no Brasil há 16 anos, quando um jovem chamado Marcelo Armstrong levou alguns turistas para a Rocinha, a maior favela do Rio de Janeiro. Sua empresa, Favela Tour, cresceu e deu origem a uma meia dúzia de imitadores. Hoje, em qualquer dia no Rio, dezenas de turistas sobem em minivans e motos e se aventuram por lugares em que mesmo a polícia brasileira não tem coragem de pisar. Os organizadores insistem que os passeios são seguros, apesar de sempre checarem as condições de segurança. Luiz Fantozzi, que fundou a empresa carioca Be a Local Tours, diz que pelo menos uma vez por ano ele chega a cancelar um passeio por questões de segurança.

Os passeios podem ser seguros, mas também são tensos. Rajika Bhasin, uma advogada de Nova York, lembra-se de que, em um determinado momento do passeio na favela, o guia disse a todo mundo para parar de tirar fotos. Um jovem se aproximou do grupo, sorrindo e segurando uma arma engatilhada. Bhasin disse que ela não se sentiu exatamente ameaçada, "apenas muito alerta em relação ao ambiente em volta, e consciente do fato de que eu estava no território desse rapaz."

Ainda assim, diz ela, a experiência, que incluiu a visita a algumas galerias que mostravam o trabalho de artistas locais, foi positiva. "Honestamente, posso dizer que foi uma experiência transformadora", disse Bhasin. Apesar de compreender as críticas, ela defende: "Isso tem muito a ver com quem você é e porque está fazendo o passeio".

Chuck Geyer, de Reston, Virgínia, chegou a Mumbai para fazer um passeio armado com lenços sanitários e com a expectativa de ver a miséria humana encarnada. Mas saiu com uma idéia diferente. Em vez de ser abordado por mendigos, Geyer acabou ganhando presentes: frutas e tintura para passar nas mãos e no rosto, uma vez que os moradores celebravam o festival hindu de Holi. "Fiquei chocado com a amistosidade e graciosidade dessas pessoas", diz Geyer.

Os defensores do turismo nas favelas dizem que esse é o ponto: mudar a reputação das favelas, um turista por vez. Os organizadores dos passeios dizem que oferecem empregos para os guias locais e uma chance de vender souvenires. Way prometeu investir 80% de seu lucro na favela de Dharavi.

O problema, entretanto, é que a empresa de Way ainda precisa receber algum lucro com os passeios, pelos quais ele cobra 300 rúpias (cerca de US$ 7,50). Depois de ser atacado pela imprensa indiana ("uma crítica justa", admite Way), ele abriu um centro comunitário na favela com seu próprio dinheiro. O centro oferece aulas de inglês, e o próprio Way coordena um clube de xadrez. Muitos das agências que fazem passeios nas favelas no Brasil também investem parte de seus lucros nas comunidades. Fantozzi contribui com uma escola e uma creche.

Mas o turismo de favela não se restringe a caridade, dizem seus defensores, ele também alimenta um espírito empreendedor. "No início, os turistas eram cercados por mendigos, mas agora não mais", diz Kevin Outterson, um professor de leis de Boston que já fez vários passeios nas favelas. Fantozzi explicou aos moradores, diz Outterson, "que você não vai conseguir nada do meu grupo mendigando, mas se você produzir algo, eles comprarão."

Mesmo os críticos do turismo em favelas admitem que ele permite que alguns dólares circulem nas comunidades, mas dizem que isso não é um substituto para programas de desenvolvimento.

O professor Fennell, de Ontário, imagina se o retorno relativamente insignificante do turismo pode fazer alguma diferença. "Se você está tão preocupado em ajudar essas pessoas, então assine um cheque", diz.

*Eric Weiner é autor do livro "A Geografia da Felicidade: Um rabugento em busca dos lugares mais alegres do mundo"

Tradução: Eloise De Vylder (para texto original deste link)

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Pré-carnavalesco

este missivista saiu pros bailes na esperança de encontrar internautas com disposição de mil folias digitais. Esvaziou diversas garrafas e lançou aos mares internéticos. Embriagou-se com o ambiente de Sorocaba e cansou: num desejo megaloetílico achou que este laboratório deve ser, de fato, a galáxia de Gutemberg. Nem que só virtualmente... E o grande problema serão as ressacas.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Imagine: o futuro de nosso turismo rodoviário pode estar aqui

Como conseguir viabilizar projetos alternativos em transporte num ambiente cuja supremacia rodoviária impede soluções mais sustentáveis? A mesma dominação que imprime nas estradas movimento cada vez mais crescente e que pouco preza pela manutenção destas, apesar da privatização das vias mais rentáveis. Ora, ora, quem sabe a equação de número de rodovias consorciadas e quilômetros de vias melhoradas seja mais condizente com a melhor qualidade e maior segurança do fluxo, por mais veículos novos e por mais pedágios de concessionárias que houver e ainda, ao intensificar as interligações dos principais pontos pelo interior do país. E, quem sabe assim, mais gente tenha iniciativas como a do pioneiríssimo Exploranter e possa investir em tecnologias de energia mais limpa, aproveitando as condições climáticas brasileiras. Transformar a corrida pelo ouro da sustentabilidade e garantir, de fato, um lugar ao sol, num rally ambiental. Daí, que possa mesmo alguém por aqui saber criar, através de inovações na forma de transportar cultura e conhecimento, se inspirar também em coisas como o busão do John Lennon - um grande leva e traz da cidadania - e, enfim, mudar um pouco do estagnante paradigma do turismo sob rodas, sobre o chão deste Brasil.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

80 anos de uma viagem

"Ai, que preguiça!" Foi assim que um certo tcc (trabalho de conclusão de curso) em turismo, desfechava sua página de agradecimentos e dedicatórias, há coisa de 12 anos. Tempo de sobra pra se tornar um uísque decente à parte, vamos ao que interessa: a Revista Cult, que figura nos links de Leituras Pré-Per-Pós Viagens, na coluna lateral deste labtour, apresenta esta reportagem sobre Macunaíma, que, no caso, tá mais pruma cachaça cada vez mais deliciosa por estar bem envelhecida.

Nosso Rei Arthur
montipaitoniano
em busca do
Novo Muiraquitã sagrado